Texto alerta para desequilíbrio de nitrogênio na América Latina
Luiz Antonio Martinelli, professor do laboratório de Ecologia Isotópica, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena/USP), teve artigo publicada na revista científica Science, a pesquisa em questão aborda os desafios que a América Latina deve enfrentar pelo consequente aumento do uso de nitrogênio.
A publicação ocorreu na edição de 12 de abril e reuniu pesquisadores do Brasil, Bolívia, Argentina, Venezuela e México, países que defendem a adoção de soluções sustentáveis para reduzir o impacto humano no ciclo do nitrogênio na atmosfera.
Abaixo, Press Release do artigo fornecido pela Science.
A América Latina (AL) enfrenta vários desafios em decorrência de sua posição no mundo em desenvolvimento e da disparidade social entre e dentro dos países que compõe a região. Por exemplo, o PIB per capita da AL é maior que o da China, mas é 3 a 4 vezes menor comparado aos dos países da União Europeia e os Estados Unidos. Por outro lado, a AL tem uma das maiores taxas de urbanização do mundo e um dos maiores índices de expansão de áreas para produção agropecuária, mas extremamente desigual na distribuição de renda e terras. Outro ponto interessante é que a AL, apesar dos altos índices de desmatamento, é conhecida por sua mega biodiversidade. Como consequência desses fatos, a AL deve resolver uma complexa equação que inclui a produção de alimento e commodites agrícolas, o crescimento e planejamento urbano e a conservação de seus biomas naturais para manutenção de serviços ambientais fundamentais.
Um único elemento químico, o nitrogênio (N), ilustra como pode ser complicado resolver esta equação. Com a expansão acelerada e desordenada das regiões urbanas, um dos problemas mais sérios na AL é a falta de saneamento básico, sendo que a maior parte do esgoto doméstico produzido acaba em rios e riachos, com constante perigo de exposição às populações. Trabalhos científicos indicam que a AL é a região do mundo com maior incidência de doenças de veiculação hídrica, como Ascariasis, que acaba perpetuando a pobreza e acentuando as desigualdades sociais. Ao mesmo tempo, o esgoto em natura carrega N para a água, causando o fenômeno da eutrofização que ameaça a biodiversidade aquática e dificulta o tratamento de água para abastecimento público.
O nitrogênio é um importante fertilizante para a produção agrícola. Em média, ainda se usa pouco N-fertilizante na AL, mas o crescimento de seu uso tem sido muito grande, só não sendo maior, em proporção, que o crescimento observado na China. Por mais eficiente que seja a aplicação de N-fertilizantes existem perdas de N para o ambiente, podendo causar poluição ambiental e determinado aumento de custo na operação agrícola. O desmatamento acelerado na região, também contribui, através das queimadas, para lançar para a atmosfera uma enorme quantidade de N. Este N além de afetar a própria composição na atmosfera, volta à superfície através das chuvas. Modelos matemáticos estimam que a deposição de N aumentará em certos biomas da AL que contém uma alta biodiversidade. A entrada extra de N através da deposição atmosférica pode levar a uma considerável mudança e mesmo perda de espécies nos biomas mais afetados. Adicionalmente, mecanismos internacionais como o ‘Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal’ (REDD), das Nações Unidas, podem se tornar fundamentais para a redução do desmatamento.
Para resolver esta complicada equação a AL precisa tomar várias decisões dentro das estruturas sociopolíticas vigentes. Em parte, pobreza, desigualdades sociais e urbanização desenfreada, que agravam a poluição por N, devem ser resolvidas por instituições políticas “inclusivas”, que considerem a população como um todo e não somente grupos privilegiados.
A produção de alimentos, fibras e bioenergia deve continuar, afinal, a AL se tornou um importante provedor mundial de tais commodities, mas esta produção não deve se seguida de mais desmatamento. Afinal a área agrícola já é suficientemente grande para um aumento significativo na produção, apenas necessita-se de uma produção mais eficiente com um mínimo de impacto ambiental, incluindo o uso eficiente de fertilizantes. Essa combinação não é trivial, mas a implementação de práticas agrícolas sustentáveis como cultivo mínimo, rotação de culturas, adubo verde e integração lavoura-pecuária podem contribuir em muito para a sustentabilidade agrícola.
A AL tem uma chance única na história da humanidade de promover um crescimento ambientalmente sustentável, contribuir com a produção de alimentos para o mundo e continuar sendo uma região mundialmente conhecida por sua mega biodiversidade. A conciliação destas duas ações – produzir e preservar – não é simples, mas não há outra opção para o futuro. Como também não há outra opção que não seja reduzir a pobreza e as desigualdades sociais que são alarmantes na AL.
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