Pesquisa relaciona poluição a incidência de metais pesados no rio Tietê

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Não é de hoje que os impactos da poluição nas águas e sedimentos do rio Tietê geram preocupação. O rio que corta o estado mais desenvolvido do país e já foi caminho de bandeirantes desbravadores acumula indicadores nada positivos. Foi esse contexto que motivou um grupo de pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)-Piracicaba/SP, liderados pelo professor-doutor Jefferson Mortatti, a estudar a ocorrência e a distribuição de metais pesados extraídos dos sedimentos de fundo, ao longo da bacia do rio Tietê, de acordo com diferentes critérios de toxicidade.

Nos últimos dois anos, a pesquisa coletou amostras dos sedimentos de fundo em pontos diversos da bacia do Tietê, incluindo o canal fluvial e os principais reservatórios hidroelétricos – da nascente em Salesópolis – até a foz em Pereira Barreto, utilizando modernas técnicas, como amostragem em perfil vertical, de acordo com os padrões internacionais.

Diversos critérios de toxicidade de metais pesados foram utilizados nessa pesquisa, procurando ampliar o fórum de discussões a respeito do potencial de poluição a que o corpo d’água está sujeito. Um cuidado especial durante o desenvolvimento da pesquisa foi a utilização de vários critérios para estabelecer a toxicidade dos metais pesados nos sedimentos coletados. “Optamos por essa variação de técnicas para evitar resultados errôneos e incongruentes com a realidade”, completa o professor.

Com o apoio financeiro da Fapesp (Fundação de Amparo à esquisa do Estado de São Paulo), a pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Isótopos Estáveis do CENA-USP sob a coordenação do prof-dr Jefferson Mortatti, dos mestrandos Graziela Meneghel de Moraes, Renato Alessandro Lopes, colaboração de membros do grupo de Hidrogeoquímica (prof-dr Helder de Oliveira, doutorandos Alexandre Martins Fernandes, Diego Vendramini e o mestrando Murilo Basso Nolasco). Os estudos estão praticamente concluídos, em fase de divulgação em congressos, simpósios e publicação em revistas científicas nacionais e internacionais.

Os resultados preliminares de maior interesse para a comunidade em geral evidenciaram pontos ao longo de toda a bacia do rio Tietê com elevadas concentrações de metais pesados nos sedimentos fluviais, como cobre (Cu), cobalto (Co), cromo (Cr), zinco (Zn), cádmio (Cd), níquel (Ni) e chumbo (Pb) – elementos químicos altamente prejudiciais à saúde (vegetal, animal e humana).

O estudo desenvolvido pelo professor do CENA-USP e sua equipe comparou os diversos critérios e concluiu que, quando se utiliza como elemento de comparação a variabilidade natural regional das concentrações desses metais pesados, problemas com a toxidez de cobre, cobalto, cromo e zinco ocorrem ao longo de toda a bacia do rio Tietê.

Especificamente, elevadas concentrações de cobre foram determinadas nos sedimentos de fundo nas localidades de Tietê e Anhembi, no médio rio Tietê, como também em Nova Avanhandava e Pereira Barreto, no baixo rio Tietê. A origem desse metal pesado pode estar associada aos esgotos domésticos e tratos culturais, casos de Tietê e Anhembi, enquanto que em direção à foz do rio, junto dos reservatórios de Nova Avanhandava e Três Irmãos, a presença de elevadas concentrações de cobre é devido a sua utilização no controle de algas, na forma de sulfato de cobre.

Um caso típico é o da cidade de Bom Jesus do Pirapora, localizada as margens do rio Tietê, abaixo da grande influência da região metropolitana da grande São Paulo. Elevadas concentrações de cobre, cromo e zinco puderam ser verificadas nos sedimentos e, no entanto, não se encontram biodisponíveis para qualquer tipo de toxidez devido às elevadas concentrações de enxofre determinadas nesse ponto, oriunda dos esgotos domésticos sem tratamento lançados no curso d’água. O enxofre forma com esses metais pesados complexos chamados sulfetos metálicos, com baixíssima solubilidade, retendo os metais nos sedimentos. “Parece que, nesse caso, a poluição (do enxofre) ajuda controlar a poluição (dos metais)”, explica o coordenador da pesquisa.

Os resultados completos estão sendo encaminhados aos organismos competentes para delinear as próximas ações quanto ao estabelecimento de critérios de toxicidade de metais pesados em sedimentos fluviais, informa o professor, reforçando ser esse tipo de contribuição a proposta fundamental dos trabalhos científicos desenvolvidos no CENA-USP.

Quando lançados na água, no solo ou no ar, os metais pesados podem ser absorvidos pelos vegetais e animais das proximidades, provocando graves intoxicações ao longo da cadeia alimentar. Absorvidos pelo corpo humano se depositam no tecido ósseo e gorduroso, ocupando o lugar de minerais nobres. Lentamente liberados no organismo, eles podem provocar uma série de doenças.

REGIÃO PESQUISADA

(Pontos de coleta de sedimentos)

-Reservatório de Ponte Nova – próximo às nascentes do rio Tietê

– Rio Tietê em Biritiba Mirim

– Rio Tietê em Mogi das Cruzes

– Reservatório de Pirapora

– Rio Tietê em Tietê

– Rio Tietê em Anhembi

– Reservatório de Barra Bonita

– Reservatório de Bariri

– Reservatório de Ibitinga

– Reservatório de Promissão

– Reservatório de Nova Avanhandava

– Reservatório de Três Irmãos – próximo a foz do rio Tietê

SOBRE O RIO TIETÊ – O rio Tietê nasce em Salesópolis na serra do Mar, a 1.120 metros de altitude. Apesar de estar a apenas 22 quilômetros do litoral, as escarpas da Serra do Mar obrigam-no a caminhar no sentido inverso, rumo ao interior, atravessando o estado de São Paulo de sudeste a noroeste até desaguar no lago formado pela barragem de Jupiá no rio Paraná, no município de Três Lagoas, cerca de 50 quilômetros a jusante da cidade de Pereira Barreto.

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